sábado, 10 de janeiro de 2009
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• Ary Fontoura: "Silveirinha é humilhado e ofendido, mas também ofende e humilha" _____________________________________
Nenhum dos personagens que fez antes na TV levou Ary Fontoura a tantas reflexões quanto o dissimulado Silveirinha, de A Favorita. "Eu nunca lidei tanto com o lado negro do ser humano como nesta novela", justifica o ator de 75 anos, 43 deles de trabalhos ininterruptos na Globo.
Mas por outro lado, vê que nem mesmo as crianças têm medo das vilanias que pratica em A Favorita. "Como já fiz muita coisa na TV, me vêem como um ator antigo e querem cuidar de mim", explica. O que não o livra, no entanto, de enfrentar situações inusitadas em estádios de futebol, por exemplo.
"Vou muito a jogos e gosto de ficar na arquibancada. Às vezes me jogam alguma coisa na cabeça. Mas depois que a partida começa, esquecem do Silveirinha", conta Ary, com ar de satisfação.
Você até abriu mão de suas férias para interpretar o Silveirinha. Lá no início, o que chamou a sua atenção na sinopse do personagem? O pouco que sabia do personagem - um ex-empresário de uma dupla sertaneja - eu achei interessante, apesar de indefinido. Não sabia que ele seria vilão e aceitei porque disseram que apareceria pouco na história.
E como é, do meio da novela para cá, ser tão requisitado e aparecer em quase todas as cenas? Estamos trabalhando de uma maneira bem rígida. Há muita cobrança quando se faz uma novela das oito. Às vezes, não consigo sair do personagem. Na profissão de ator, tudo é saber fingir. Mas a gente lida com sentimentos. E, em algumas cenas, esses sentimentos são tão fortes que marcam profundamente. Você não consegue fazer mais nenhuma cena, mas ainda tem 10 pela frente. O Silveirinha me leva a muitas reflexões.
Quais? Paro para pensar em como o ser humano é, em como as pessoas resolvem suas vicissitudes. Ninguém é só mau ou só bom. O Silveirinha é humilhado, ofendido, mas também ofende e humilha. Há rancores que nunca foram resolvidos porque ele premeditou um belíssimo futuro e errou. Isso mostra que na vida não dependemos apenas de nós mesmos. Tudo é diálogo. Quando as pessoas se esquecem disso, e o Silveirinha se esqueceu, o caminho fica aberto para alguns valores desprezíveis, como o rancor e a raiva. Nunca lidei tanto com o lado negro do ser humano como estou lidando nessa novela.
Em sua novela anterior, Sete Pecados, seu personagem também ganhou importância no decorrer dos capítulos. Atores experientes como você são a salvação para novelas frágeis ou inconsistentes? Em A Favorita o personagem foi sendo construído a partir das várias etapas que a novela teve. Não acho que a novela ou os autores passem por uma crise, como dizem por aí. O que acontece é que o mundo está mudando muito e as pessoas estão com certa dificuldade de acompanhar o que acontece por causa da pressa de hoje em dia. Não conheço o João Emanuel Carneiro pessoalmente, por exemplo. Mas acho que ele sabe muito bem o que quer e o Silveirinha já é um dos personagens mais importantes de minha carreira.
E como o público reage às maldades do Silveirinha? Fiz o Sítio do Picapau Amarelo por três anos e meio e as crianças me adoravam. Era Coronel Ludovico para todos os lados. Então, pensei: "com o Silveirinha praticando tanta maldade, esse público não vai mais me dar atenção". Mas as crianças não têm o menor medo de mim (risos). No shopping, já ouvi mãe dizendo para a filha parar de chorar porque senão vai chamar a Flora.
Se disser que vai chamar o Silveirinha, não vai acontecer nada. Não entendo muito esse processo, mas acho que as pessoas me olham e cuidam um pouco de mim. Sou um ator antigo, muito visto em diversos papéis, então as pessoas são carinhosas. Depois de Sete Pecados, veio gente dizer para eu não fazer esse tipo de personagem porque o Romeu foi muito bom. Mas eu explico que preciso exercitar uma série de valores para minha profissão não cair na monotonia. As pessoas aceitam, mas pedem para eu fazer um bonzinho na próxima.
Fonte: TV PressMarcadores: entrevistas
escrito às 15:02 - Link da notícia -
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