Donatela: Que pena que você não vai viver para ver o final do filme. Vou te matar, Flora.

Flora: Abaixa essa arma.

Donatela: Você não me deixou outra alternativa. Você acabou com a minha vida. Agora vou acabar com a sua.

Flora: Você tá mesmo desesperada. Atirar em mim, à queima-roupa, num banheiro público? Você tá entregando os pontos.

Donatela: Não dá mais um passo!

Flora: Deixa eu te contar o que vai acontecer com você. Dezoito anos na prisão pública, você não sabe o que é. Eu sei o que é isso, o calvário. Você não tem curso superior, vai ter que dormir no cimento, junto com rato, barata, passando por cima de você. Já comeu angu azedo?

Donatela: Não chega mais perto!

Flora: E as suas companheiras de prisão? Já imaginou que companhias agradáveis que você vai ter? Por que você não vai ter ninguém do seu lado, ninguém vai lembrar de você.

Donatela: Não vou te negar vai ser duro. Mas se você pensa que vai ficar com Lara tá muito enganada. A Lara é minha.

Flora: Não é não. A Lara é minha. Saiu daqui. Quer que eu te conte como foi o parto? A dor que senti?

Nesse momento, batem na porta do banheiro.

Donatela: Não se mexa, que eu atiro!

Flora: Isso, fala mais alto. Agora tem até testemunha. Neste momento, devem estar chamando os seguranças do cinema.

Donatela: Ninguém vai me ver.

Flora: Você é burra mesmo. Se eu aparecer morta aqui, quem você acha que vai ser a suspeita?

Donatela: Ninguém me viu entrar!

Flora: Ah, não? E a moça da bilheteria? Você vai matá-la também?

Donatela: Vamos dar um passeio. Você vai na frente e eu atrás, vamos sair de amiguinha.

As duas saem do banheiro. Donatela com a arma nas costas de Flora. Elas se dirigem para o carro de Donatela, que faz Flora pegar a direção. As duas saem e Donatela aponta a arma para a cabeça de Flora.

Flora: Eu podia jogar o carro contra um muro. Que final seria para a dupla Faísca e Espoleta!

Donatela: Você tem medo de acidente, Flora. Quantas vezes a gente perdeu trabalho porque a perua sempre quebrava e você tinha medo de viajar?

Donatela suspira e canta um trecho de “Beijinho doce”.

Donatela: Ainda tenho voz, não é, ainda canto bem. Canta comigo, canta, vagabunda! Tô mandando você cantar.

Donatela mira a arma na cabeça de Flora e as duas cantam. Flora chora de ódio.

Donatela: Ai, Flora, porque você não aproveitou o tempo que esteve presa e estudou canto? Você sempre cantou tão mal. Lembra que eu dizia que você parecia um peixe-boi cantando? Você nunca teve voz, sempre pegou carona no meu talento. Sabe, no fundo tenho pena de você, que nunca passou de uma coitada.

Nesse momento, Flora entra no autódromo.

Donatela: Pode parar por aqui. Acho esse lugar lindo. Agora sai!

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