• Claudia Raia: "Vivo todos os dias para a novela" ______________________________________
Por maior esforço que faça, Claudia Raia reconhece que é difícil retirar do imaginário do público sua imagem de mulher chique e elegante. No horário nobre como a mocinha Donatela, de A Favorita, a atriz, aos 41 anos, abriu mão de sua vaidade, tirou a maquiagem do rosto, cortou os cabelos e aparece diariamente na tevê desprovida de qualquer sensualidade.
Como a própria Claudia define: "Donatela é grande, bonita, mas é bruta, anda com as pernas abertas, com a bunda para dentro e seu corpo fica estranho, com uma aparência gorda". "Realmente é muito difícil me permitir a isso, mas quando eu faço uma personagem bonita, vou lutar para ela ficar o mais bonita possível. E quando é o contrário, luto da mesma forma, embora as pessoas pensem que eu sempre estou lutando pela beleza, pelo glamour. Para mim, o mais importante é o personagem e não eu aparecer bonita na TV", garante a atriz, relembrando a época em que interpretou a presidiária Tonhão, no humorístico TV Pirata (1988). "Quem assiste ao DVD pode comprovar o que já fiz com o meu corpo, meu rosto... Agora, acredito que, com a Donatela, em termos de plástica, não preciso provar mais nada", completa Claudia.
No entanto, se o assunto é dramaturgia, a segurança já não é a mesma: "não acho que eu faça nada bem. Em nenhum trabalho achei que faria com o pé nas costas. Às vezes, tenho mais segurança numas coisas, mas nessa novela nunca sei o resultado que ela vai ter", explica, enumerando as diversas cenas em que achou, de verdade, que não fosse dar conta do recado.
"O primeiro embate com a Patrícia, no primeiro capítulo, foi uma cena muito difícil. Aliás, todos os encontros com ela são duríssimos de fazer", conta Claudia, reconhecendo que hoje em dia esses duelos não são mais tão complicados assim, mas também não chega a ser moleza. "Mole nunca é. É uma loucura, não tem essa palavra nessa novela. É sempre duro, nem meia-bomba. É sempre duríssimo", emenda, às gargalhadas.
Se fosse continuar a relembrar todas as "durezas" cênicas de A Favorita, Claudia incluiria um monólogo de três páginas de texto numa visita à redação de Zé Bob (Carmo Della Vecchia), quando os dois ainda não se conheciam direito, e, claro, o marcante capítulo 57. Ali foi feita a revelação de Flora (Patrícia Pillar) como assassina de Marcelo (Flávio Tolezani) e grande vilã da trama.
"Aquilo não foi um capítulo, foi um longa-metragem num capítulo", brinca. "A cena em que ela cantou Beijinho Doce, com a arma na cabeça da Flora, foi gravada às 4h30, em São Paulo. Terminou e eu disse para o diretor: 'Estou vazia, acabada'. Ele me perguntou se eu teria como gravar mais a cena da Donatela andando na ponte, chorando, debaixo de chuva. Eu disse: 'Vamos fazer'. Mas é assim, faço com muita vontade porque uma cena é melhor do que a outra".
Em quase quatro meses da trama de João Emanuel Carneiro no ar, Donatela é a rainha do sofrimento. Segundo a própria Claudia analisa, essa dor é justificável. "Ela é uma pessoa que só perdeu na vida. Perdeu os pais aos 5 anos; adquiriu um pai (Pedro, Genézio de Barros) que não é dela, é da Flora; teve uma dupla sertaneja que também foi perdida; uma irmã que não era dela; perdeu o marido assassinado; tem uma filha (Lara, Mariana Ximenes) que não é dela, é da outra. Enfim, nada é dela. É uma mulher que não tem nada, por isso é tão insegura", diz.
"Donatela é uma Joana d'Arc, uma mártir. É impressionante a força que ela tem para dar a volta por cima", completa a atriz, que ouve nas ruas o apoio do público. "As pessoas estão agoniadas, ouço loucuras. Elas vibram dizendo que eu vou conseguir, que o Brasil está chorando comigo", ri.
Além da angústia que carrega, a mocinha também é a mestre dos disfarces. Já usou touca e óculos para se passar por Diva (Giulia Gam) e escapar da prisão e, atualmente, circula de peruca loura para fugir dos bandidos que estão atrás de Diva, escondendo os fios curtos, que cortou exclusivamente para a personagem. "Meu cabelo nunca foi meu, ele serve para eu mudar de 'máscara'", afirma, satisfeita com o resultado final do corte.
Com quase 25 anos de profissão, é possível ver nos olhos de Claudia o orgulho que sente de si mesma por estar "agüentando o tranco", como ela própria define. Fora isso, a atriz também se diz muito estimulada pela oportunidade de fazer um trabalho que classifica como ousado, extremamente arriscado e que a faz, desde antes da estréia, em junho, viver todos os dias para a novela.
Fonte: Terra + Jornal O DiaMarcadores: curiosidades, mini-entrevistas
escrito às 22:46 - Link da notícia -
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